Matador que sou


Que sô que nem cobra criada
Cheinha de artimanhas
Dou o bote se preciso
Mas tem também minhas manhas
Inda hoje me conservo
Fito de longe, observo
Por mo de ver quem me agrede
Com cuidado me aproximo
Inté finjo que me animo
Que é pra vê se o cabra sede.

Mas como de ferro num sô
E o meu sangue é uma quentura
Só vai sobrar para o dotô
A porta duma sepultura
Antes de me cunhecê
Sô sincero a lhe dizê
Tenha cuidado olhe bem
É mió ser meu amigo
Do que ser meu inimigo
Eu num perdou ninguém!

Luar Triste


Quando olho para o Céu
hoje não vejo mais nada,
nem aquele luar triste
nem estrela desfocada.

Quero construir meu Céu
no teto de minha casa,
com as cores mais bonitas
e um anjo batendo as asas.

Quero um Céu azul de dia
à noite, negro e brilhante
com uma estrela cadente
passando de instante em instante.

Irei fazê-la um pedido
para o outro Céu voltar
Com o velho luar triste
que só eu sei consolar.

Alforria à suas rédeas

Essa minha cidade de sociedade pouco esclarecida, onde a cultura foi vencida pelo cansaço, onde se endeusam políticos em seus altares para uma veneração a troco de nada. Cidade coronelizada, amaldiçoada pela corrupção, onde a lei está sob os deuses do poder, que ficha limpa ou suja é eleita pelos bips solitários provocados pelos dedos vendidos dos cidadãos de tapa-burro numa cabine de trevas. Alforria à suas rédeas.

Ah, vadiagem

Saudade da irresponsabilidade e da vadiagem de minha adolescência, onde nenhum compromisso me importunava, onde os problemas se resumiam a problemas de conexão e quedas de energia.

Saudade daquela vinheta do filme de tarde e de quando sonhava e babava a fronha até me acordar afogado.

As tardes badaladas das redes sociais ao som alto das caixas acústicas do computador que tocavam um rock romântico de primeira qualidade.

Pois é, vida minha, temos mesmo que crescer, trabalhar, se endividar e ficar dependente de tua rotina que só de pensar dá vontade de me aposentar por invalidez.

Sobre amor e dúvidas

Hoje eu duvido do amor como quem duvida da dor, do sentir sem crer que exista sem saber se é assim que funciona ou se eu que não sei amar - talvez as duas coisas.